segunda-feira, 4 de maio de 2009

Feliz Dia das Mães!

PARÁBOLA DAS MÃES FELIZES

( De um poema árabe do século XII)


A jovem mãe ia, enfim, iniciar a grande jornada pela estrada incerta da vida. E perguntou,

Muito tímida, ao Anjo Bom do Destino:

- É longo o caminho a percorrer, Senhor? Serei feliz com os meus filhos que tanto amo e estremeço?

Respondeu-lhe, sereno e terno, o Anjo Bom do Destino.

- O caminho que se abre diante de ti é longo, muito semeado de angústias, recortado de dores e topetado de fadigas. Antes de alcançares a curva extrema, virá a impiedosa velhice.

Ao teu encontro .Ainda assim, asseguro-te que os teus derradeiros passos serão mais cheios de alegrias e encantamento do que os primeiros.

E a jovem mãe partiu. Sentia-se extremamente ditosa em companhia de seus filhinhos.

A existência lhe decorria sob o véu de um delicioso encantamento . Brincava com os pequeninos; colhia para eles, unicamente para eles, as mais lindas flores que adornavam os caminhos do mundo. E o sol brilhava, inundando a terra com a bênção de suas torrentes de luz. E o dia se escoava tão sereno que a jovem mãe murmurou, fitando, enternecida, o céu

Azul.

- Nada haverá, Senhor, de mais belo! Jamais serei, na companhia de meus filhos ,mais feliz do que sou agora!

A noite veio, porém, alongando sobre a terra o seu manto pesado e sombrio. Nuvens disformes amontoaram-se no firmamento: desabou o temporal. O vento norte uivava como

Um chacal faminto pelos areais sem fim. Os pequeninos, tolhidos de frio, trêmulos de medo, soluçavam.A jovem mãe destemida aconchegou-os a si, agasalhando-os sob sua

Túnicas, e as crianças, bem abrigadas e protegidas, docemente murmuraram:

- Ó mãezinha querida! O medo já não mais se abriga em nossos corações! A teu lado,

Mãezinha adorada, nenhum mal nos alcançará! E a jovem mãe exclamou num ímpeto de alegria:

- Isto para mim, ó Deus, é mais belo e grandioso do que a jornada pelo caminho tranqüilo, sob o esplendor do dia!Sinto-me, realmente, feliz! Mais feliz do que ontem!

Contra a tormenta protegi meus filhos e lancei, para sempre, em seus pequeninos corações, a semente do destemor e da coragem!

Passou a noite. Louvando seja DEUS! A noite passou. Raiou, esplêndida e balsâmica, a alvorada. A estrada, naquele terceiro dias, se estendia ladeirenta pelo dorso de uma

montanha alcantilada e perigosa. Era forçoso subir. Subir muito. Os pequeninos sentiam-se fatigados. A jovem mãe quase desfalecida de sede e de cansaço. Fazendo, porém, das fibras corações, mostrava-se animosa, e sem cessar, dizia aos filhos:

- Vamos! Para cima! Breve chegaremos ao alto! Vamos! Subamos sempre!Subamos!

E essas palavras multiplicavam energias que o esforço constante e excessivo queria aniquilar.E as crianças iam subindo, subindo...Chegaram, finalmente, ao cimo da montanha.

A jovem mãe os enlaçou, então, em seus braços carinhosos. E eles lhe disseram:

- Ó mãezinha querida, sem ti não teríamos conseguido vencer estas escarpas, contornar

Estes abismos e levar a bom termo esta jornada. Sem o teu auxílio incomparável sucumbiríamos em meio da escalada. Sabemos, agora, como superar os grandes tremedais da sorte!

E a delicada mãe, ao repousar naquele dia, semimorta, exclamou arrebatada

- Ó Deus, clemente justo! O dia hoje foi para mim melhor ainda do que o de ontem! Sinto-me mais feliz! Mais feliz do que nunca! Ensinei meus filhos a enfrentar, bravamente, os reveses e as tristezas da vida!

No quarto dia, estranhas nuvens cor de chumbo cruzaram o céu. Um rugido surdo, que

Parecia partir das profundezas ignoradas da terra, enchia o ar, soturnamente. De súbito, a imensa montanha tremeu: rochas descomunais desprenderam-se e rolaram com estrondo para os abismos apavorantes.

Era o cataclismo que começava. Tão altas e densas erguiam-se as colunas de pó, que chegavam a cobrir a face do sol. E as trevas da noite desceram sobre a terra a em pleno dia. A morte , com suas garras de fogo, rondava por toda parte. Nem tenda havia, nem caverna ou abrigo,onde um ser humano pudesse ter segura a curta vida. As crianças, presas de cruciante pavor, choravam. E a jovem mãe, serena e forte, lhes dizia:

- Em Deus confiai, meus filhos! Olhai para cima! Deus os livrou da fúria infrene . Ao findar aquele dia, a mãe exclamou em êxtase, erguendo humilde para os céu os seus olhos cheios de gratidão:

- Este foi o dia melhor de minha vida, senhor! Ensinei meus filhos a crer em Vós, a confiar em Vós, só em Vós, ó Deus misericordioso!

Amontoaram-se os dias; sucederam-se os meses; os anos passaram... E a mãe, toda entregue á felicidade ao bem –estar dos filhos, não sentiu o rolar intérmino do tempo. Os seus formosos cabelos fizeram-se brancos como a neve; o brilho desapareceu de seus olhos; sua face tracejou-se de rugas. Era, enfim, a velhice que chegava. Mas que encanto para a sua vida de mãe! Os filhos crescidos, fortes, cheios de alegria, pareciam redobrar em si a boa seiva que dela partira. Ela, a mãe feliz, curvada ao peso da vida, já mal podia

Caminhar. Os filhos, porém, ali estavam, a seu lado, para servi-la, honrá-la e odebecer-lhe!

O mais velho dizia-lhe, carinhoso e com desbordante afeto:

- Mãezinha! Quero hoje carregar-te em meus braços! Estás tão fraca e cansada!

Protestava o mais moço com entusiasmo:

- Que egoísmo é esse, meu caro! Hoje é meu dia! Eu, sim, é que ire carregar a mãezinha querida!

E a mãe feliz sorria a um, abraçava a outro; beijava a ambos.

Que bons e delicados eram os filhos para ela. Sim, para o coração materno, fizera pausa o tempo. Eles eram, ainda, os seus filhinhos, os ternos, estremecidos... E ela sentia-se tão feliz. Tão feliz, que não achava palavras com que agradecer a Deus!

Um dia, afinal, a mãe ditosa reuniu os filhos e disse-lhes, num fiozinho de voz:

- A minha tarefa está finda, meus filhos. Vou deixá-los. Irei para longe, para muito longe daqui...

- Pois iremos contigo, mãezinha! Ninguém nos poderá separar de ti!

Ela, não sustendo as lágrimas e deixando-as deslizar, insistiu com meiguice:

- Não, querido. Desta vez terei de ir só. Partirei sozinha.

E eles, afeitos á obediência, mais uma vez obedeceram. E a boa velhinha partiu. Foi indo, vagarosamente, toda acurvada, trêmula...

Diante dela , no extremo do caminho, abriram-se dois largos portões que refulgiam cheiros de luz. Entrou. Uma voz, que mais parecia um cântico de glória, lhe dizia com infinita mansuetude;

- Vinde a mim, ó mãe feliz! Vinde a mim!

Os filhos, que a vigiavam de longe, viram-na, de repente, desaparecer:

- Ela partiu para sempre! Para sempre! Não a veremos nunca mais!

Nunca mais!-exclamavam emocionados. –Mas a santa lembrança dessa mãe querida viverá para sempre em nossos corações! Eduquemos nossos filhos como ela nos educou: na bondade, na obediência, no amor...

E, no silêncio da tarde que caía, lentamente, ouvia-se o sussurro de chorar longínquo. Calaram-se todos.

Que seria? Era o filho mais moço. O rosto entre as mãos, inconsolável, soluçava de joelhos, á margem da vida, com a dor da saudade a negrejar-lhe o coração:

- Minha mãe! Minha mãe querida!

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